Nutrição Animal: nutrientes e aditivos essenciais para alimentar bovinos, suínos e aves

04 de Dezembro de 2019

Assim como ocorre com as plantas, os minerais são considerados elementos essenciais para uma boa nutrição animal. Eles estão envolvidos em praticamente todas as vias metabólicas do organismo de mamíferos, aves e peixes, sendo importantes na reprodução, no crescimento, no metabolismo energético, e todas outras funções fisiológicas vitais, não só para manutenção da vida, como, também, para o aumento da produtividade do animal.

Dentre estes elementos, temos os macronutrientes (Ca, P, Mg, Na , K, S e Cl) e os micronutrientes (Co, Zn, Fe, Cu, Mn, I, Se, Cr), todos apresentando maior ou menor grau de importância.

As funções básicas dos minerais essenciais são divididas em três grupos principais: no primeiro, as funções relacionam-se com o Crescimento e Manutenção dos tecidos corporais; no segundo, funções da regulação dos processos corporais dos animais; e, no terceiro grupo estão as funções de regulação na utilização da energia dentro das células do corpo. Todas com suas devidas importâncias para o organismo.

1# Sal comum. Combinação perfeita entre cloro e sódio, essencial para a alimentação animal
Na nutrição animal é praticamente impossível separar o cloro do sódio e vice versa, visto que, na suplementação, eles são utilizados de maneira conjunta na forma de sal comum. O cloreto de sódio (NaCl) é a principal e mais abundante fonte de sódio e cloro utilizada na alimentação animal.

Estes elementos são geralmente discutidos de maneira conjunta, pois possuem funções que se correlacionam no metabolismo animal. O sódio é o principal elemento mineral no fluido extracelular (plasma), enquanto o potássio é o principal do meio intracelular. O transporte ativo destes minerais entre o interior e o exterior da célula proporciona o equilíbrio elétrico entre os dois lados da membrana plasmática, em um fenômeno conhecido como “bomba de sódio e potássio”.

A recomendação é que o sal seja oferecido à vontade para os bovinos no pasto, distribuído em cochos. Evidentemente, essa suplementação deverá considerar os outros minerais, principalmente o fósforo e microminerais.

2# Cálcio + Fósforo: constituintes do esqueleto e essenciais para aumento da produção
O cálcio e o fósforo, juntamente com a proteína, são importantes nutrientes para o desenvolvimento ósseo dos animais. O fornecimento desses minerais em quantidades adequadas na ração assegura a boa qualidade da estrutura óssea.

Entre os minerais necessários, o cálcio e o fósforo têm grande destaque. Eles possuem grande importância no metabolismo animal, pois representam 3/4 dos tecidos animais e 90% da substância mineral dos ossos. Além disso, desempenham importante papel na elaboração dos produtos animais. Por exemplo, uma vaca que produz 5 litros de leite, diariamente, elimina, por esse leite, 360 gramas de cálcio, e isso precisa ser reposto pela alimentação.

Cálcio + Fósforo: Essenciais para a produção de leite em bovinos

nutriçao animal vaca

A alimentação de ruminantes é baseada em forragens verdes, que são naturalmente pobres em fósforo, necessitando de suplementação. Vale lembrar que as forragens, de forma geral, são ricas em cálcio, porém, em solos pobres neste mineral, elas também serão pobres.

Animais em crescimento, fêmeas em gestação ou em lactação necessitam desses elementos em maior quantidade para suprir as necessidades do organismo objetivando o aumento do volume corporal, do feto, ou para cobrir a quantidade eliminada pelo leite.

nutrição animal galinhas

Os minerais cálcio e fósforo são considerados os principais na ração para poedeiras, podendo influenciar significativamente na qualidade da casca dos ovos. O excesso de cálcio na ração pode dificultar a absorção de alguns minerais, tais como fósforo, ferro, zinco, magnésio, sódio e potássio, influenciando, assim, a manutenção da homeostasia desses minerais. Por sua vez, o fósforo em excesso na ração irá prejudicar a liberação de cálcio do osso e a adequada mineralização da casca do ovo.

Já para suínos, deve ser dada grande atenção na forma destes elementos na dieta. O fosfato bicálcico, os fosfatos de rochas desfluorados e o triofosfato de cálcio apresentam boa disponibilidade de P para suínos, e igual valor como suplemento. Assim como ocorre em aves e bovinos, a necessidade destes elementos em suínos irá variar conforme a categoria, o peso e o sexo do animal.

3# Potássio: importante para o balanço osmótico
Depois do cálcio e do fósforo, o potássio é o elemento mineral mais abundante no organismo dos animais. Ele tem sua concentração maior no interior celular, sendo importante no balanço osmótico, equilíbrio ácido base, balanço hídrico corporal e ativação de sistemas enzimáticos.

A carência em potássio conduz a distúrbios do crescimento, cardíacos e renais. Em suínos, experimentos mostraram que estes morreram em 6 semanas, quando submetidos a uma dieta carente em potássio.

Em herbívoros, a alimentação fornece quantidades suficientes de potássio. As pastagens tropicais, geralmente, são ricas neste elemento e a maior parte do K ingerido é reciclada pela urina. Carências podem ser observadas em bezerros bem jovens com dieta a base de leite artificial.

4# Magnésio: em bovinos, cuidado com a tetania das pastagens!
O magnésio participa na formação do esqueleto, além de ser indispensável para muitas reações bioquímicas. Cerca de 70% do magnésio do organismo encontra-se no esqueleto. Os sintomas gerais de deficiência incluem lesões de pele, hiperirritabilidade, disfunção muscular, calcificação de tecidos moles, ossos e dentes defeituosos e crescimento retardado.

Porém, o sintoma mais típico da deficiência de Mg é a tetania das pastagens, representada por uma série de desordens nutricionais provocada em animais que se alimentam de forragens deficientes em magnésio. Esse distúrbio é causado por uma redução na concentração de magnésio disponível no sangue e no líquido cérebro-espinhal, e ocorre tanto em machos como em fêmeas, que são mais suscetíveis.

A fonte de escolha para a suplementação é o óxido de magnésio ou Magnesita calcinada incluída na ração, no sal mineral ou pulverizada sob as pastagens.

 

5# Enxofre: essencial na síntese de proteínas
O Enxofre é um elemento muito importante na síntese de proteína, pois os aminoácidos essenciais cisteína e metionina contêm este elemento. O S participa, também, das vitaminas biotina, tiamina e dos polissacarídeos sulfatados, incluindo a condroitina, que é componente da cartilagem, ossos, tendões e paredes dos vasos sanguíneos.

A deficiência de enxofre é caracterizada por perda de peso, fraqueza geral, aspecto emaciado e morte, além da redução da síntese microbiana e subnutrição proteica. A ausência dele na dieta resulta em uma população microbiana ineficiente na utilização do lactato e, assim, o ácido láctico se acumula no rúmen, sangue e urina.

A suplementação de enxofre para ruminantes é importante principalmente quando a dieta contém ureia. Neste caso, a relação indicada é de uma parte de enxofre para cada quinze partes de Nitrogênio.

6# Ferro: componente essencial para a constituição da hemoglobina
Embora o organismo contenha somente 0,004% de ferro, esse elemento desempenha um papel central nos processos vitais. Faz parte, principalmente, da hemoglobina, que dá a coloração vermelha ao sangue e é o pigmento responsável por carregar o oxigênio. Mais da metade do ferro está presente na forma de hemoglobina.

A deficiência de ferro em bovinos adultos é rara. Entretanto, quando os animais jovens ainda estão na fase de aleitamento, com hemorragias e até mesmo sintomas de vermes ou parasitas hematófagos, observa-se deficiência de ferro com bastante frequência.

O ferro é essencial para a alimentação de suínos

nutrição animal porco

Dados de estudos indicam que leitões confinados, que não recebem suplementação de ferro, podem ter mortalidade entre 9% e 60%.

Muitas formas de fornecimento de ferro podem ser adotadas na suinocultura, desde o fornecimento de terra até diferentes formulações de ferro para uso oral. Outra forma bastante eficiente e segura é a aplicação injetável de 200mg de ferro dextrano a 20%, normalmente em uma única dose. Essa prática é realizada entre o terceiro e o quinto dia de vida dos leitões via intramuscular ou subcutânea.

Além dos mamíferos, as poedeiras também merecem atenção quanto aos níveis suplementares adequados de ferro, visto que há perda deste elemento pelo ovo.

7# Cobre: também responsável pela constituição das hemoglobinas
Assim como o ferro, as funções fisiológicas do cobre estão intimamente ligadas à produção da hemoglobina, participando do metabolismo do ferro. Ele participa, também, na composição de enzimas com metais em sua composição, na formação normal do osso, do colágeno e da elastina. Cerca da metade do suprimento normal de cobre encontra-se nos músculos, mas há, também, um pequeno estoque na medula óssea e no fígado.

Os principais sintomas da deficiência do Cu são relatados como desordens nervosas, pele e pelos despigmentados, diarreias, queda na produção de leite e da fertilidade. Além disso, a deficiência de cobre pode comprometer a formação óssea, e, possivelmente, a reprodução. As pastagens geralmente são pobres neste mineral, necessitando de suplementação.

8# Zinco: participação importante no metabolismo da vitamina A e no equilíbrio ácido básico
O zinco exerce um papel de fundamental importância no organismo, sendo um constituinte específico da anidrase carbônica (enzima que regula o equilíbrio ácido básico no organismo). Tem participação, também, no metabolismo da vitamina A, mobilizando-a no fígado e mantendo os níveis normais da mesma no sangue.

As proporções do zinco no organismo dos animais variam de acordo com as espécies e categorias, tendo sua distribuição em diversos órgãos e tecidos, como: fígado, pâncreas, rins, íris e coroide do olho, fâneros, medula óssea e baço (neste caso, mais presente em animais jovens).

A deficiência de Zn que pode ser verificada em todas as espécies, com lesões na epiderme, caracterizando a paraqueratose.

A suplementação pode ser na forma de sulfato e óxido, sendo o sulfato de zinco 35% a forma mais eficiente devido a sua maior biodisponibilidade.

9# Manganês: mais um importante elemento para o desenvolvimento da matriz óssea e um ótimo ativador de enzimas
O manganês é essencial para o desenvolvimento da matriz orgânica do osso, além de ser um ativador de uma série de enzimas. O Mn é também necessário para a síntese de ácidos graxos e fosforilação oxidativa no mitocôndrio.

A deficiência de manganês em pintos irá determinar a “perose”, caracterizada por um espessamento e má formação da articulação tibiometatársica, fazendo com que a pata fique virada para dentro ou para fora.

Perose em aves, ocasionada pela deficiência em manganês

Já em poedeiras, há a redução na produção de ovos e aumento da incidência de cascas fracas. Nos mamíferos, em geral, observa-se uma redução no crescimento, na fertilidade e abortos frequentes, além de baixa sobrevivência e deformações neonatais dos bezerros.

10# Iodo: essencial para as atividades da tireoide
O iodo é o componente principal da tiroxina (hormônio com ação na tireoide). Ela, por sua vez, é responsável por controlar a intensidade do metabolismo como um todo. Cerca de 70 a 80% do total de I no organismo se encontra na glândula tireoide.

A deficiência de iodo provoca a menor atividade da produção do hormônio na tireoide, culminando em todas as manifestações decorrentes da ausência deste. Também é observada a conhecida alteração da tireoide, chamada bócio.

11# Selênio: importante, também, para a saúde humana
Embora longamente reconhecido como um elemento tóxico para bovinos, o Selênio é, atualmente, um elemento essencial na dieta animal, mesmo que seja encontrado em nível de traço no organismo animal.

A função do selênio no organismo esta ligada à enzima glutatinona peroxidade.

Ele apresenta interação com a vitamina E e aminoácidos sulfurados. A sua relação com a vitamina traz benefícios à saúde das vacas e aumento da produção leiteira. Além disso, a ração enriquecida com selênio e vitamina A tende a melhorar a conservação do produto e aumentar os níveis deste elemento no sangue das crianças que consomem o leite suplementado, trazendo saúde a elas.

12# Outros micronutrientes também devem ser considerados na formulação de rações
O Estanho, por exemplo, é um elemento que contribui para a estrutura terciaria de proteínas e ácidos nucleicos. O Cromo, por sua vez, está relacionado com a insulina, sendo que sua deficiência aumenta o nível de colesterol. O Arsênio parece exercer ação inibidora sobre o sistema redox combinando-se com os radicais – SH, sendo antagonista do selênio e do iodo. Já o Molibdênio é considerado um elemento mineral tóxico, e, além disso, interfere na utilização do cobre pelo organismo.

Como visto, todos os nutrientes da ração têm sua importância, cabe ao nutricionista/zootecnista balancear a melhor opção para cada espécie e categoria de animais, de forma que estes tenham nutrientes balanceados e consigam produzir de maneira saudável e eficiente.

ADITIVOS NA RAÇÃO ANIMAL, POR QUE USÁ-LOS?
nutrição animal

Não adianta ter a melhor ração se os animais não conseguirem sintetizar os nutrientes. Desse modo, o nutricionista animal deve dar atenção especial aos aditivos da ração, que vão melhorar o aproveitamento dos nutrientes, além de aumentar o tempo de preservação dos mesmos, sempre em busca da maior produtividade.

No Brasil, o MAPA define aditivo como substância intencionalmente adicionada ao alimento com a finalidade de conservar, intensificar ou modificar suas propriedades, desde que não prejudique seu valor nutritivo. Os principais aditivos utilizados na alimentação animal são:

1# Ionóforos: substâncias naturais produzidas por fermentação de microrganismos
Os ionóforos são as principais substâncias utilizadas por nutricionistas para promover um melhor aproveitamento das rações, principalmente dos bovinos confinados. Eles são utilizados como promotores de crescimento de suínos e cocciodiostático em aves.

No Brasil, seis ionóforos são aprovados, quatro para uso exclusivo em aves domésticas (lasalocida, maduramicina, narasina e senduramicina), um para uso em aves e bovinos (monensina – considerado o principal) e outro indicado para bovinos e suínos, além das aves, domésticas (salinomicina).

O uso de ionóforos tende a melhorar a conversão alimentar em ruminantes, pois são capazes de modificar a fermentação ruminal, alterando a produção e a proporção de AGV (Ácidos Graxos Voláteis) e o metabolismo de proteínas no rúmen.

2# Antibióticos não-ionóforos: modificam a população de bactérias gastrointestinais
Os antibióticos não-ionóforos, representados, principalmente, pela virginiamicina tem apresentado efeitos positivos sobre o ganho de peso e eficiência alimentar, tanto em monogástricos como em ruminantes, apesar de ainda ser pouco utilizada em bovinos. Seus efeitos relacionam-se às alterações na população ou atividades metabólicas das bactérias que habitam o trato gastrointestinal, especificamente bactérias gram-positivas.

3# Probióticos: organismos vivos benéficos aos animais
Devido à necessidade de menor uso de antibióticos, por conta da já comprovada resistência de patógenos aos medicamentos, o uso de probióticos vem ganhando força, pois são produtos baseados em culturas de organismos vivos não patogênicos que se estabelecem naturalmente no trato digestivo, especialmente no intestino.

Microrganismos probióticos evitam, ou ao menos diminuem, a presença de bactérias patogênicas a partir de mecanismos como a competição por nutrientes, por espaço ou por ação direta ou indireta de metabólitos produzidos por eles.

Os probióticos mais utilizados são: Lactobacillus farciminis, Bacillus cereus, Saccharomyces cerevisiae e podem ser utilizados em rações de ruminantes e monogástricos.

4# Tamponantes: visam diminuir o pH do trato digestivo
Tamponantes são as substâncias utilizadas com o intuito de diminuir as variações no pH do trato digestivo, especialmente do rúmen, e mantê-lo em níveis normais.

São utilizados principalmente por animais em confinamento, devido as suas dietas ricas em concentrado. Tais animais tendem a apresentar uma maior produção de ácidos orgânicos por conta da maior fermentação. Esse processo reduz a capacidade tamponante natural do rúmen em função de um menor estímulo à salivação, o que resulta na diminuição do pH.

As substâncias mais usadas como tamponantes são o Bicarbonato de Sódio, Bicarbonato de Potássio, Óxido de Magnésio e o Carbonato de Cálcio. A inclusão de determinado tamponante na ração irá depender da quantidade de concentrado, uso ou não de silagem, além de outros fatores.

Há diversos outros aditivos que vêm sendo utilizados na nutrição animal como: tanino, saponinas, leveduras, inoculantes ruminais. Cabe ao nutricionista animal escolher aquele que se adéqua melhor às rações utilizadas.

A maioria destes aditivos ainda tem pouco uso no Brasil e, um dos maiores desafios do produtor é selecionar aqueles elementos que realmente funcionam para as suas necessidades. Assim, é importante que o uso de aditivos siga as recomendações técnicas previamente estabelecidas.

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